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16-08-2004

Coisas de nada


Pluralidade

Há quem diga que somos um país de poetas e escritores; que quase não há quem não tenha, no fundo de uma gaveta qualquer, papéis, talvez amarelecidos pelo tempo, onde rabiscou uns versos ou umas considerações saídas do fundo do coração em momentos de grande alegria ou de grande dor. Naturalmente, apenas um pequeno número destes escritores poderia ganhar alguma notoriedade. Alguns, infelizmente, tornaram-se mais conhecidos do que era justo. Porque há as campanhas comerciais e os amigos influentes ou ricos. Mas conheço outros que merecem ser mil vezes mais lidos. Um deles é Sebastião da Gama, que ficou para sempre ligado à Serra da Arrábida e à profissão de professor. Gostaria muito de que alguns dos meus leitores se sentissem animados a lê-lo. É alegre, é simples, é fresco, é humano. Diz as coisas de uma maneira que a gente entende e faz-nos sentir melhores. Andou por aqui pouco tempo, mas com a alma limpa, as mãos limpas e os olhos limpos. E, por isso, pôde escrever coisas que são verdadeiramente luminosas. Não encontramos nele crítica, nem azedume, nem queixas da vida. Soube encontrar alegria e beleza nas coisas pequenas, no possível, no que está ao alcance da mão. Publicou várias obras de poesia (Serra Mãe, Itinerário Paralelo, Pelo Sonho é que Vamos, Campo Aberto) e o Diário, livro extraordinário no qual narra de forma interessantíssima a sua experiência como professor de jovens. É do Diário o texto que copio a seguir: «O Poeta beija tudo, graças a Deus. E aprende com as coisas a sua lição de sinceridade... E diz assim: "É preciso saber olhar...". E pode ser, em qualquer idade, ingénuo como as crianças, entusiasta como os adolescentes e profundo como os homens feitos. E levanta uma pedra escura e áspera para mostrar uma flor que está por detrás... E perde tempo (ganha tempo...) a namorar uma ovelha... E comove-se com coisas de nada: um pássaro que canta, uma mulher bonita que passou, uma menina que lhe sorriu, um pai que olhou desvanecido para o filho pequenino, um bocadinho de Sol depois de um dia chuvoso... E acha que tudo é importante... E pega no braço dos homens que estavam tristes e vai passear com eles para o jardim... E reparou que os homens estavam tristes... E escreveu uns versos que começam desta maneira: "O segredo é amar..."». E acrescento outras palavras com a mesma origem: «Uma vez subi a um quarto andar onde mora um tipógrafo; ia com gana de lhe comer os fígados, porque me andava a enganar desde que o livro entrara na oficina. Pois recebeu-me, lá no alto, um Sol magnífico a cair sobre Lisboa: isto tudo visto por uma pequena janela. Adeus, fúrias, adeus, palavras como punhais! Basta uma janela para me fazer feliz (...)». Nem parece que Sebastião tinha – como realmente tinha – a consciência de ser um homem condenado a morrer cedo, por causa da tuberculose. Ou talvez fosse precisamente esse o motivo que o levava a encantar-se com aquilo a que nós chamamos ninharias, coisas de nada, com aquilo em que nem sequer reparamos porque temos os olhos virados para outros bens que consideramos maiores. Há livros que permanecem em estantes poeirentas, quando deviam andar nas nossas mãos... Paulo Geraldo Professor de Língua Portuguesa pjgeraldo@yahoo.com.br

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